Quando comecei a pensar na existência desta newsletter, ideias e neuras que tenho com cinema e representatividade, abri uma nota e escrevi alguns filmes que gostaria de falar sobre e fazer meus amigos assistirem. Pensei nos curtas que quero indicar, uns cults que ainda quero assistir e em estreias de cineastas que admiro.
Muitos dos filmes que passaram na minha cabeça saíram da lista rapidamente. Uma questão essencial foi a disponibilidade, várias coisas que vejo estão perdidas por aí na internet e, como acabamos de nos conhecer, não vou te fazer cometer um crime logo de cara. Por fim, decidi começar a nossa jornada com o primeiro longa de Ryan Coogler, Fruitvale Station.
Por que assistir Fruitvale Station: a última parada?
Este não é um filme desconhecido, uma joia cinéfila dos anos 50 ou um curta perdido de um cineasta negro brasileiro que só pesquisadores sabem do nome. Fruitvale Station estreou levando prêmios importantes em festivais como Cannes e Sundance que já indicavam uma carreira de sucesso para seu diretor e roteirista.
O filme conta a história do último dia de vida de Oscar Grant III – interpretado por Michael B. Jordan –, um jovem de 22 anos da Baía de São Francisco morto por policiais na estação da cidade em 01 de janeiro de 2009.
Já nos primeiros minutos do longa, Coogler expõe imagens reais gravadas por um celular, como se quisesse tirar o assunto do caminho e ir logo ao que interessa: a vida de um jovem comum. Ao longo de 82 minutos, vemos imagens domésticas: um pai, filho e namorado que está tentando se tornar uma pessoa melhor.
E é na recusa em ser um filme sobre violência policial que está a maior virtude – e defeitos – de Fruitvale Station. Sim, até podemos questionar se Coogler minimiza elementos que prejudicam nossa simpatia com o personagem principal ou, se ao privilegiar momentos de gentileza de Grant, ele deixa a fidelidade aos acontecimentos em segundo plano. Mas é nessa constante tentativa de humanização de seu personagem, que o filme se estabelece como uma contra narrativa de cuidado e empatia.
Muitos produtos audiovisuais nos últimos anos têm abordado essa temática explorando corpos negros e frequentemente colocando-os em situações de violência e terror. Mas questiono: quantos deles não reduzem a experiência de vidas negras em sofrimento? E quantas histórias são esquecidas na busca por mártires?
Terceiro ato
Fruitvale Station está disponível no Globoplay e Prime Video.
Mas se tiver só alguns minutos para assistir algo nesse final de semana, também recomendo Locks (2009), primeiro curta de Coogler feito enquanto ele estava na universidade. Disponível no Vimeo.
Também acho importante mencionar que Fruitvale Station marca o começo do trabalho do diretor com a incrível diretora de fotografia Rachel Morrison e premiado compositor Ludwig Göransson, parcerias que se repetem em Pantera Negra.
Pós-crédito
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Fruitvale Station (2013)
Direção e roteiro: Ryan Coogler
Atores principais: Michael B. Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer
Fotografia: Rachel Morrison
Trilha: Ludwig Göransson
Créditos de imagem: Copyright DCM Filmverleih