A sugestão da newsletter hoje vem com peso e responsabilidade: Eu Não Sou Seu Negro é um documentário de 2016 que faz uma reflexão sobre raça nos Estados Unidos com uma obra inacabada de James Baldwin.
Logo, estou em dúvida se peço para todo mundo assistir com um caderno para anotar tudo ou grudado na tela prestando muita atenção em cada detalhe para não perder nada. Talvez os dois, um depois o outro. Ou nenhum porque assistir é o mais importante, então vamos lá.
Por que assistir Eu Não Sou Seu Negro?
O documentário dirigido por Raoul Peck tem uma missão impossível: adaptar para o audiovisual um manuscrito incompleto de James Baldwin chamado “Remember This House”. A obra – que começou a ser escrita nos anos 70 – contaria a história dos Estados Unidos por meio de recordações pessoais de Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr. – líderes de movimentos por direitos civis assassinados nos anos 60.
Para cumprir seu objetivo, Peck se apoia apenas nas palavras de Baldwin. Não há em Eu Não Sou Seu Negro relatos de família e amigos, entrevistas com pesquisadores sobre a importância de sua obra ou depoimentos de pessoas famosas contando como os livros de Baldwin os influenciaram. Baldwin é a inspiração única e exclusiva para Eu Não Sou Seu Negro.
O documentário busca outras referências para ilustrar a escrita de Baldwin – narrada pelo ator Samuel L. Jackson –, como imagens de arquivos, fotos históricas, cenas de filmes citados, além de trechos de entrevistas, debates e palestras do próprio autor.
No entanto, o maior desejo de Eu Não Sou Seu Negro é transportar os ensinamentos de Baldwin para os dias atuais e utilizar sua produção não só para entender as dinâmicas raciais em um país em que a opressão do negro é intrínseca a sua construção, mas para questionar e contextualizá-las.
Com o documentário se nota que James Baldwin não é apenas atemporal porque é um autor genial (e ele é!), mas porque conseguiu identificar suas responsabilidades e seu papel na comunidade negra e compartilhou seu processo através de sua escrita. Há erros, acertos, incertezas e dúvidas em tudo que Baldwin escreve, e é por isso que ainda é tão inspirador conhecer sua obra em 2016, 2020, ou 2040.
Terceiro ato
Eu Não Sou Seu Negro está disponível no Globo Play.
Vale a pena lembrar que a adaptação cinematográfica do romance Se a Rua Beale Falasse foi lançada em 2018 por Barry Jenkins. Eu não encontrei o filme em nenhum streaming, mas sei que dá para alugar e encontrar por aí.
E para me guiar nas leituras de James Baldwin, estou usando esse fio da atriz Yara Shahidi que tem recomendações de por onde começar, quais os temas dos livros e quais são seus os romances.
Pós Crédito
Ainda no Substack, em Créditos Iniciais, você encontra dicas de iniciativas, listas de filmes, catálogos e bibliografia sobre cinema preto. Esse é um post que vai ser atualizado sempre, e tem um formulário lá para quem quiser adicionar algo.
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Créditos
Eu Não Sou Seu Negro (I Am Not Your Negro) (2016)
Diretor: Raoul Peck
Roteiro: James Baldwin, Raoul Peck
Voz: Samuel L. Jackson
Créditos de imagem: Sedat Pakay