Antes de fazer a sugestão do Cinema Preto de hoje, gostaria de esclarecer que me isento de toda responsabilidade sobre essa sugestão e se você escolher esse filme para assistir e odiar a culpa não é minha. Talvez toda a minha expertise e a relação de confiança que construímos até agora estejam em risco porque preciso escrever sobre Bad Trip, uma comédia de pegadinhas e câmera escondida.
Só um aviso: esse filme é +18, então não é apropriado assistir com crianças, adolescentes e alguns pais e parentes.
Por que assistir Bad Trip?
Dirigido por Kitao Sakurai, Bad Trip tem premissa de filme de estrada: dois amigos decidem viajar da Flórida até Nova York para mudar de vida, enquanto Chris (Eric André) quer reencontrar seu grande amor, Maria Li (Michaela Conlin); Bud (Lil Rel Howery) tenta provar que não tem medo de sua irmã, Trina (Tiffany Haddish). O diferencial é que o que conduz a trama são pegadinhas planejadas pela equipe e filmadas com câmera escondida. Nessa mistura de comédia roteirizada e improvisação, os atores convidam pessoas comuns para construir uma história absurda e surreal.
Eu não tenho hábito de assistir comédias baseadas em pegadinhas, eu sei o que é Jackass só de nome e, mesmo sendo parte essencial da carreira do comediante Eric André, eu só conhecia as entrevistas desconfortáveis e os memes. Estou justificando minha ignorância prévia? Sim, mas também quero esclarecer que assisti a esse filme num domingo entediante procurando algo caótico para ocupar minha tarde, e foi a escolha perfeita para o momento
E eu sei que os adjetivos – caótico, absurdo, desconfortável – que utilizei até aqui não trazem nenhum conforto, mas Bad Trip só é bom se você decide abraçar o caos. Eu me senti desconfortável em grande parte do filme, fiz cara feia par
a muitas cenas, mas também fiquei impressionada com as reações. Diferentemente de Borat em que me senti muito mal observando pessoas concordando ou sem nenhuma resposta para piadas fascistas, os “participantes” de Bad Trip são – em sua grande maioria – solícitos, gentis e prestativos. Então, se tem um ator pelado porque a roupa foi sugada por um aspirador, é reconfortante ver alguém fazendo o que pode para o ajudar.
Kitao Sakurai e Eric André trabalham juntos no The Eric André Show para a Adult Swim, um programa que se descreve orgulhosamente como o pior talk show já criado, e há um nível de parceria necessária para criar a insanidade do programa que é verdadeira para Bad Trip também. A dinâmica entre os atores e, logicamente, a equipe tenta “extrair” o melhor das pessoas comuns que estão em cena. As piadas não são criadas para humilhar quem participa, mas para que eles sejam incluídos e atraídos pelo desconforto.
Se ainda não sabe se Bad Trip é para você ou não, assista aos cinco primeiros minutos. Se não fluir, acho difícil que a experiência melhore, porque o filme só fica mais intenso, desconfortável e caótico (de novo). Tem uma senhora fofoqueira incrível no minuto 50 que também vale a pena assistir.
Terceiro ato
Bad Trip está disponível na Netflix.
Pós-crédito
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Bad Trip (2021)
Elenco principal: Eric André, Lil Rel Howery, Tiffany Haddish e Michaela Conlin
Direção: Kitao Sakurai
Roteiro: Kitao Sakurai, Eric André, Andrew Barchilon, Dan Curry
Fotografia: Andrew Laboy