Univitellin, escolha de hoje no Cinema Preto, é uma apropriação de clássicos: na narrativa, o curta-metragem reconta um amor impossível como o de Romeu e Julieta, e na linguagem cinematográfica a obra referencia diretamente à Nouvelle Vague. Com essa junção, o diretor e roteirista Terence Nance cria um filme único que vai além de suas influências.
Por que assistir Univitellin?
Talvez a alternativa mais fácil para conversar sobre o curta seja começar falando um pouco sobre seu criador, porque é incrivelmente complicado descrever Univetellin sem entregar tudo sobre o filme, mas vou tentar.
Artista norte-americano, Terence tem seu primeiro sucesso com o longa An Oversimplification of Her Beauty (2012), um romance experimental que é frequentemente descrito como uma quebra de regras em relação a narrativas convencionais, e é um dos nomes que divide a codireção do álbum visual quase surreal When I Get Home (2019), de Solange. Mas apesar de 10 anos de experiência na indústria e de assinar uma minissérie para HBO chamada Random Acts of Flyness (2018), Terence nunca se consolidou como um diretor mainstream em Hollywood. Aliás, ele deixou a direção de Space Jam 2, filme que seria sua estreia com um grande estúdio, por “diferenças criativas”.
Por isso, quando comecei a assistir Univetellin, tive minhas expectativas demolidas e, aos poucos, reconstruídas, afinal os adjetivos frequentemente relacionados ao trabalho do diretor – experimental, surreal e impressionista – aparecem em Univitellin, mas estão mesclados na apropriação e desconstrução dos motivos e técnicas da Nouvelle Vague.
“Com este filme em particular, eu estava tentando seguir a linha de zombar/parodiar os filmes franceses da Nouvelle Vague e prestar homenagem a eles. Eu acho que muito do cinema contemporâneo está enraizado na linguagem da Nouvelle Vague e na fofura/autorreferencialidade falsa desse estilo, então eu queria chamar a atenção para como histórias de amor contadas usando essa linguagem afetam as pessoas quando se apaixonam na vida real.”
Os protagonistas desse romance, Bardara e Aminata, também aparecem fragmentados pela estrutura. Pedaços de suas vidas e personalidades são apresentados: trancista, mecânico, filhos de imigrantes e o amor pelo cinema, por exemplo, mas tudo está tão despedaçado que fica difícil distinguir quando um termina e o outro começa.
Se não há distinção clara entre os dois amantes, não espere barreiras entre tempo, espaço, idiomas e, até mesmo, filme e espectador. Como o curta se autorreferencia através de uma narração, Terence se expõe e aparenta deixar suas intenções nítidas para o espectador. Em algum momento, Bardara diz que odeia quando personagens falam sobre filmes e explica que há conversas que não deveriam ser filmadas, Aminata rapidamente contrapõe que “nada é infilmável”. Bom, é fácil perceber que Terence concorda com Aminata.
Terceiro ato
Univitellin está disponível no Vimeo.
Esse filme foi indicado no formulário de indicações e queria agradecer a você, leitor que não sei o nome e não conheço, porque amei essa sugestão e já estava procurando os filmes de Terence Nance nos streaming br há algum tempo.
Se tiverem outras indicações, o formulário de sugestões está sempre aberto, mas também respondo outras formas de comunicação: email, DMs, comentários e pombos.
Pós-crédito
Se você tiver um tempinho, no meu Substack, em Créditos Iniciais, você encontra dicas de iniciativas, listas de filmes, catálogos e bibliografia sobre cinema preto. Esse é um post que vai ser atualizado sempre, e tem um formulário lá para quem quiser adicionar algo.
E também estou no Twitter e no Letterboxd. Mas mais importante, compartilhe o Cinema Preto com os amigos, conhecidos ou bots que possam se inscrever em newsletters e gostem de cinema.
Direção e roteiro: Terence Nance
Elenco: Aminata M'Bathie, Naky Sy Savané, Badara N'Gom & Mama Faso
Música: Akua Naru, Dany Levital
Fotografia: Shawn Peters
Edição: Théo Lichtenberger