Deprimido e ressentido após o fim de um namoro, Rell (Jordan Peele) vê sua vida melhorar quando encontra um gatinho na porta da sua casa que ele batiza como Keanu. Quando o seu novo pet é roubado por criminosos, Rell conta com a ajuda de seu primo e melhor amigo, Clarence (Keegan-Michael Key), para recuperar o gato. Essa é a premissa de Keanu, filme desta sexta-feira do Cinema Preto.
Por que assistir Keanu?
Olha, nem acredito que esse vai ser o primeiro filme de Jordan Peele que vamos conversar na newsletter. Como a carreira cinematográfica do roteirista e diretor é bem conhecida e discutida, apesar dos seus filmes de terror, Corra (2017)e Nós (2019), estarem disponíveis nos streamings brasileiros, nunca os trouxe para cá. Assim, Keanu se torna um ótimo exemplo para tratar sobre um assunto presente em todas as obras da carreira de Peele: expectativas sobre identidade negra.
Keanu é um filme transicional, uma obra que existe entre a série Key and Peele, Jordan Peele nos aterrorizando com seus filmes e Keegan-Michael Key flertando com a Meryl Streep naquele musical terrível da Netflix. Por isso, é difícil pensar no filme independentemente do que veio antes e depois para os dois artistas.
Co-escrito por Peele e dirigido por Peter Atencio, cineasta que trabalhou nas cinco temporadas de Key and Peele, Keanu parece, conceitualmente, uma versão estendida de uma esquete da série para a Comedy Central. E, dentro dessa lógica, é impossível não dizer – sem querer te desanimar – que há esquetes mais ambiciosas, subversivas e astutas que fazem muito mais em três minutos do que esse filme consegue em 98.
Mas várias qualidades de Key and Peele aparecem em Keanu também: a química e o charme de seus protagonistas, incrível atenção aos detalhes que faz personagens pequenos ganharem vida, referências à cultura pop e, mais importante, uma constante consciência do que se é esperado socialmente de uma pessoa negra.
Rell e Clarence estão à margem dos estereótipos raciais performados por homens negros na maioria das grande produções de cultura de massa. Mas para salvar Keanu, eles precisam adotar todos os maneirismos e vozes associadas a essas personas estereotipadas. Essas transições externas são aparentemente fáceis, mas o filme explora comoas questões identitárias estão mais conectadas com quem eles são e podem se tornar do que com homens negros curtindo George Michael.
A comédia também ganha mais brilho quando Tiffany Haddish está em cena. A comediante interpreta a “mulher durona” do filme com gravidade, confiança e, surpreendentemente, certa sensualidade. Depois de Girls Trip (2017), esse é o meu trabalho favorito dela, mesmo que seu papel seja subestimado pelo filme.
E esse é o problema de Keanu, tem tantas ideias sendo utilizadas ao mesmo tempo que o desenvolvimento essencial de algumas tramas e personagens ficam superficiais. O bom é que esse excesso envolve cenas de um gato com durag, Method Man, Keanu Reeves dublando o gato, sequências de ação com gatos correndo em slow motion, boas piadas, ou seja, o suficiente para fazer essa comédia atrativa, charmosa e divertida.
Terceiro ato
Keanu está disponível na Globo Play.
É uma milagre que esse texto tenha saído e não se tornado uma lista das minhas esquetes favoritas de Key and Peele. Ou que eu tenha escrito algo e não só ficado reassistindo os vídeos (o que eu posso dizer?). Enfim, a maioria das esquetes estão no Youtube e com legenda!
Pós-crédito
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Keanu (2016)
Elenco principal: Jordan Peele, Keegan-Michael Key, Tiffany Haddish, Method Man
Direção: Peter Atencio
Roteiro: Jordan Peele e Alex Rubens
Fotografia: Jas Shelton