Kbela, escolha do Cinema Preto dessa semana, é um daqueles filmes que vai crescendo na nossa cabeça. Quanto mais eu penso a fotografia, a trilha, e os sorrisos para o espelhos, mais eu gosto dele.
Curta-metragem dirigido pela cineasta carioca Yasmin Thayná, o filme conta a experiência de uma menina negra que, após passar por um processo de de embranquecimento, reencontra em seu cabelo crespo um dos caminhos para a liberdade de ser negra.
Por que assistir Kbela?
Kbela é descrito como uma experiência audiovisual realizada de forma colaborativa por mulheres negras sobre mulheres negras. Essa descrição é muito importante.
O curta não é um filme comum, é uma experiência sobre transformação, libertação e tornar-se negra. Em seus 20 minutos, Kbela utiliza performances de corpos negros para contar sua história. São imagens fortes, bonitas e, às vezes, um pouco assombrosas. O curta conversa diretamente com Alma no Olho (1973), filme de Zózimo Bulbul, precursor do que hoje chamamos de cinema negro brasileiro e também narrativamente experimental.
Por outro lado, Kbela não resgata apenas uma estética, é um exercício de construção histórica. Em sua fala para o TEDx, Yasmin pergunta se o público consegue nomear dez cineastas negras brasileiras. A resposta é, provavelmente e infelizmente, não. Por isso, considero importante destacar que esse é um filme autoral e independente feito por mulheres negras, um trabalho coletivo assim como é a jornada da protagonista do curta.
Falar sobre cultura negra em diáspora demanda um exercício de busca por referências passadas, muitas vezes esquecidas e propositalmente apagadas, e também uma força criativa de recriação, reimaginar o passado e referenciar na construção de um futuro. É um equilíbrio difícil, mas que Kbela faz ser poético.
Terceiro ato
Kbela está disponível no Youtube.
Nesta reportagem, Yasmin Thayná fala sobre a importância do cabelo na transformação da visão que uma mulher negra tem de si mesma. E aqui está a apresentação feita pela cineasta no TEDx.
Pós-crédito
Eu comentei muito brevemente sobre Alma no Olho e Zózimo Bulbul nessa newsletter, mas guardem essas referências porque é um assunto que vai ser (e precisa) ser retomado aqui mais para frente.
Só lembrando que em Créditos Iniciais, você encontra dicas de iniciativas, listas de filmes, catálogos e bibliografia sobre cinema preto. Esse é um post que vai ser atualizado sempre, e tem um formulário lá para quem quiser adicionar algo.
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Kbela (2015)
Direção e roteiro: Yasmin Thayná
Atrizes principais: Carlacris Campos, Dai Ramos, Dandara Raimundo
Fotografia:Felipe Drehmer, Karima Shehata
Composições: Ana Beatriz Silva, Ana Magalhães, Monica Ávila, Thomas Harres