Dois irmãos acordam numa manhã comum e descobrem que seu pai se foi. Diante da triste realidade do abandono, Tahir e Amine contam com o apoio um do outro para superar a ausência do pai. Esse é o plot de Abouna (2002), filme que vamos discutir hoje no Cinema Preto.
Por que assistir Abouna?
Uma das cenas mais tocantes de Abouna, segundo longa-metragem do diretor chadiano Mahamat-Saleh Haroun, mostra Tahir e Amine enrolados com metros de um filme que roubaram do cinema da cidade para procurar alguma imagem do pai. No ato um tanto transgressor, os meninos se convencem (ou acreditam) que o ator presente na obra era o pai que havia abandonado a família algumas semanas antes.
Nesse momento, o comportamento de Tahir, um adolescente de 15 anos que se torna responsável pelo irmão, e Amine, um menino de 8 que ainda tenta manter uma relação idealizada com o pai, não está amarrado à realidade, mas é uma tentativa de encontrar alguma explicação que justificasse a atitude daquele homem ou mostrasse algum sinal de esperança para o que eles estavam vivendo naquele momento.
Essa cena, presente no primeiro ato deste drama sobre amadurecimento, é um marco divisório na vida de Tahir e Amine, mas também para a experiência do espectador da obra de Haroun.
Durante os 84 minutos de duração, Haroun manipula a noção de tempo e é difícil entender quanto tempo se passa desde o primeiro minuto do filme até seu fim. Então, a sensação que domina Abouna é de pressa. Por muitas vezes senti que aqueles minutos não eram suficientes para contar a história dos irmãos Tahir e Amine e que a quantidade de eventos e questões que atravessam a vida deless é excessiva.
Porque Abouna é, desde a concepção do enredo, sobre abandono parental, mas também sobre a responsabilidade dos adultos que ficam e o que eles fazem para ajudar duas crianças a navegarem uma perda tão grande que é quase impossível processar.
Quando falo sobre pressa e a ideia de perda da noção de tempo, é porque a vontade durante o longa era fazer tudo parar e deixar Tahir e Amine enrolados nos filmes e na fantasia de um pai ator que se comunica através do cinema. Não há nada mais triste do que ver duas crianças tentando compreender a crueldade do destino, e Abouna consegue captar esse sentimento.
Terceiro ato
Abouna está disponível no Mubi.
Pós-crédito
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Elenco principal: Ahidjo Mahamat Moussa e Hamza Moctar Aguid
Roteiro e direção: Mahamat-Saleh Haroun
Edição: Sarah Taouss Matton
Fotografia: Abraham Haile Biru
Trilha: Diego Moustapha Ngarade