No Cinema Preto desta semana vamos assistir Tangerine (2015) e acompanhar a jornada de Sin-Dee e Alexandra, duas amigas que têm um pequeno problema. Ao ouvir que seu namorado, Chester, não se manteve fiel durante os 28 dias que ficou presa, Sin-Dee começa sua missão por Los Angeles para encontrar seu homem e essa suposta amante. Diante dessa situação caótica sua melhor amiga, Alexandra, às vésperas de uma apresentação importante, tenta convencer a amiga a resolver esse problema “sem dramas”.
Só um aviso: esse filme é 18+, ou seja, talvez não seja muito apropriado para assistir com crianças, adolescentes e alguns pais e parentes
Por que assistir Tangerine?
Dirigido e co-escrito por Sean Baker, Tangerine é um filme único. Para começar, suas duas protagonistas, Sin-Dee e Alexandra, são interpretadas por duas mulheres negras trans e trabalhadoras do sexo – Kitana Kiki Rodriguez e Mya Taylor, respectivamente. A conexão entre o diretor, Kitana e Mya começou na pré-produção do filme. Sean e Mya se conheceram no Centro LGBTQ em Los Angeles quando o cineasta começou sua pesquisa para escrever Tangerine. Logo depois, os dois foram apresentados a Kitana, que contou a história que guia o plot central da obra.
Tangerine é, então, construído em um processo colaborativo. De um lado, Sean Baker colocou no papel as histórias que ouviu durante sua pesquisa e, de outro, Kitana e Mya deram vida às personagens, narrativas e falas.
Na nossa tela, é evidente como essa colaboração resulta num filme realístico, energético e vibrante que, ao narrar a jornada de Sin-Dee e Alexandra (e em segundo plano, do taxista Razmik, interpretado por Karren Karagulian), consegue registrar a vida das pessoas que habitam a Los Angeles marginal, pouco representada pela indústria cinematográfica.
Essa qualidade narrativa é uma das características que me fazem amar o trabalho de Sean Baker, Tangerine é tão específico e focado em seu pequeno mundo que acaba tratando de temas abrangentes e universais. Mas é evidente que o objetivo central é registrar a história dessas duas amigas que tentam encontrar alguma forma de serem ouvidas e reconhecidas no mundo.
Assim, a câmera em constante movimento, as cores, sempre saturadas e intensas, e a trilha, alta e eletrizante, refletem a intensidade e urgência da jornada dessas mulheres. Essa linguagem está relacionada com o fato de que o filme foi filmado inteiramente com câmeras de Iphone 5S, o que fez Tangerine receber muita atenção na época do lançamento.
Por isso, apesar de ter um pouco de tudo – comédia, drama, tom documental e clima natalino – Tangerine é, essencialmente, sobre uma amizade, uma história sobre como duas pessoas que vivem à margem se encontram, se apoiam e são amadas e respeitadas na plenitude de sua existência.
Terceiro ato
Tangerine está disponível no Mubi.
Pós-crédito
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Tangerine (2015)
Elenco principal: Kitana Kiki Rodriguez, Mya Taylor e Karren Karagulian
Direção: Sean Baker
Roteiro: Sean Baker e Chris Bergoch
Edição: Sean Baker
Fotografia: Sean Baker e Radium Cheung