Nesta sexta-feira, o Cinema Preto traz nosso primeiro filme do movimento Blaxploitation e discutiremos sobre Blacula, lançado em 1972.
Por que assistir Blacula?
Dirigido por William Crain, o longa narra a história de um príncipe nigeriano do século 18 chamado Mamuwalde (William Marshal) que viaja para a Europa buscando ajuda para destruir o tráfico transatlântico de escravos. Nessa busca, o destino do príncipe cruza com o de Conde Drácula (Charles Macaulay), que não apenas considera sua ideia ridícula como decide amaldiçoar Mamuwalde a uma “vida demoníaca”.
Com um enredo cativante e, em muitos momentos, assustador, Blacula supera o que é esperado de uma produção Blaxploitation padrão: estereotipada em relação à negritude e exagerada em sua performance de violência e sexualidade. O filme de Crain é uma obra de terror e romance com questões morais e raciais ambíguas e complexas.
É claro que o filme é um produto de seu tempo demonstrando, por exemplo, a preocupação de um policial com as atividades do Partido dos Panteras Negras e uma linguagem extremamente ofensiva para se referir a personagens gays (que não foi transposta na legenda do filme). Sem contar a ostensiva presença de soul e black powers que transportam o espectador para a década de 1970.
De qualquer forma, essas questões temporais não são centrais para o enredo do filme. Com uma fórmula ágil e dinâmica, Blacula não se aprofunda na existência mítica de seu personagem principal apoiando-se em lendas vampíricas canônicas. O foco da obra recai, logicamente, na motivação central de Mamuwalde que, mesmo nesse novo mundo e novo tempo, está em se reconectar com seu grande amor, Luva, que ele acredita ter reencarnado no corpo de Tina (Vonetta McGee). Enquanto isso, o Dr. Gordon Thomas (Thalmus Rasulala), um patologista da polícia de Los Angeles, investiga os estranhos crimes que estão acontecendo na cidade.
Não há dúvidas durante os 90 minutos do filme de que Thomas é o verdadeiro herói da história, mas, como os poderes vampíricos de Mamuwalde foram infligidos a ele como uma maldição, é impossível não criar algum tipo de compaixão para uma vida que agora só pode ser levada de forma selvagem, violenta e obscura.
É na dualidade de seus personagens principais e na incrível presença de Charles Macaulay e Thalmus Rasulala que Blacula encontra seus melhores momentos. Consequentemente, o filme representa o melhor de obras produzidas por pessoas negras para pessoas negras – que é o verdadeiro foco do Blaxploitation –, uma reinvenção do clássico para refletir a sociedade e a moral de uma época.
Terceiro ato
Blacula está disponível no Telecine Play.
Pós-crédito
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Elenco principal: William Marshall, Vonetta McGee, Denise Nicholas, Thalmus Rasulala
Direção: William Crain
Roteiro: Raymond Koenig e Joan Torres
Edição: Allan Jacobs
Fotografia: John M. Stephens