Sabe aquele filme que, nos primeiros minutos, você tem certeza que te conquistou? Conhece aquele sentimento de que aquele universo é tão fascinante que você se convence a mergulhar naquela história mesmo sabendo tão pouco? E que aquele personagem tem uma imponência tão misteriosa que você só quer saber mais dele durante as próximas duas horas? Então deixa eu contar uma coisa, esse filme para mim é Selah e Os Espadas (2019), e eu espero que eu te convença a ter essa experiência e sentimentos também.
Por que assistir Selah e Os Espadas?
Selah Summers (a incrível Lovie Simone) é uma adolescente superficialmente comum: 17 anos, veterana num internato de elite chamado Haldwell e considerando ir para uma faculdade que a mãe acha perfeita para seu futuro, mas não é bem o que ela quer. Mas Selah também é a líder da facção Os Espadas e com a ajuda do seu braço direito, Maxxie (o ganhador do Emmy, Jharrel Jerome), ela fornece a “diversão” para o colégio. Por “diversão”, entenda drogas e álcool, obviamente.
Haldwell é coordenada por cinco facções que juntas e em acordo alimentam e suprem os vícios dos alunos. Se você precisa colar em uma prova, você deve procurar O Mar. Se você quer ir numa festa ilegal, Os Bobbys são responsáveis pela organização do evento. Todas facções têm líderes e um modus operandi único, e Selah tem a instituição ilegal mais intimidadora e perigosa. Por isso, ela está tendo dificuldades para encontrar alguém para assumir sua coroa e continuar seu legado.
Selah e Os Espadas existe nesse universo dúbio. De um lado, você vê adolescentes falando sobre notas da prova de biologia e baile de formatura. E de outro, discutindo sobre aviãozinho, dedo-duros e guerras entre facções. É uma combinação estranha que não devia funcionar, mas é inevitavelmente atrativa porque a diretora Tayarisha Poe tem uma linguagem visual tão instigante quanto seu roteiro.
Na marca de 10 minutos, Selah tem um monólogo sobre como o mundo não leva meninas de 17 anos a sério. É uma cena de menos de dois minutos que tem a energia de Formationcom All Night Long, poderia ser o clipe de qualquer girl band e se tivesse numa série da Netflix, o trecho seria compartilhado incansavelmente. A protagonista está apresentando o grupo de dança Spirit Squad e, enquanto fala sobre a necessidade de manter o controle sobre sua vida, acompanhamos meninas com saias verdes de prega e croppeds dançando e posando para a câmera analógica de Paloma, novata e talento promissor do colégio. “Quando você tem 17, você tem que segurar esse controle onde puder para o resto da sua querida vida porque eles sempre tentam tirar isso de você”, Selah termina seu discurso.
Tem algo mágico sobre ter 17 anos que o filme consegue narrar e capturar, a sensação de estar à beira de uma liberdade e ainda estar presa às trivialidades infantis, a vontade de conquistar o mundo mesmo com a visão tão limitada. Em seu monólogo, Selah não está falando diretamente com Paloma ou com suas parceiras de dança, ela fala para a câmera porque seu discurso transcende aquela situação, pessoas e ambiente.
Com Selah e Os Espadas, Tayarisha cria uma obra que permite que seus personagens sejam maiores que aquele espaço e que os conflitos estejam relacionados a quem eles são e não às situações ou limitações impostas a eles. É simplesmente maravilhoso poder ver adolescentes negros habitando ambientes mágicos e sendo grandiosos!
Terceiro ato
Selah e Os Espadas está disponível na Amazon Prime.
Eu tentei fazer um texto minimamente compreensível, mas eu não poderia deixar de mencionar que acho irreal que as pessoas dessa escola estudem quando o diretor é o Jesse Williams. Eu não saberia lidar com tanta beleza. E Gina Torres no papel de mãe intimidadora é a escolha de elenco perfeita! A presença, a imponência, a voz, o talento… Eu posso ficar falando horas sobre esse filme e Gina Torres, talvez precise de intervenção.
Pós-crédito
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Selah e Os Espadas (Selah e the Spades) (2019)
Elenco principal: Lovie Simone, Jharrel Jerome, Celeste O'Connor, Jesse Williams, Gina Torres
Direção e Roteiro: Tayarisha Poe
Editora: Kate Abernathy
Fotografia: Jomo Fray