“Pobre de você que não entende os mistérios da selva”, é com essa frase e no alto das árvores de sapoti que a diretora mexicana Yulene Olaizola nos convida para seu drama de época, Selva Trágica, filme desta sexta do Cinema Preto.
Por que assistir Selva Trágica?
É nas margens do Rio Hondo, na fronteira entre México e Belize, que Agnes (Indira Andrewin) acompanhada por sua irmã mais velha Florence (Shantai Obispo) e um homem chamado Norm (Nedal McLaren), tentam encontrar um refúgio contra os colonizadores britânicos. Prometida em casamento ao inglês Cacique (Dale Carley), Agnes tenta fugir de seu destino e acaba encontrando um grupo de chicleros que conhecem a selva maia.
Honestamente, não há nenhum conforto em acompanhar a história de uma protagonista mulher e negra cercada por homens que oferecem perigo à sua existência. Assim, fica difícil não questionar onde está a agência, poder e controle que fariam de Agnes uma personagem tridimensional. É impressionante, nesse contexto, a presença da atriz Indira Andrewin que consegue construir tão bem a identidade de uma mulher que é majoritariamente vista pelo olhar masculino.
No entanto, Agnes não está sozinha. Selva Trágica conecta a história de sua protagonista com a de Xtabay, um demônio da cultura maia que atrai homens para a morte se eles se aventuram em sua floresta. Dessa forma, as ideias de agência, poder e controle perdem sentido, já que esses homens também estão cercados por uma força maior e mais poderosa que está invisível aos seus olhos.
Felizmente, Yulene Olaizola nunca tenta explicar os acontecimentos de Selva Trágica ou aplicar algum tipo de lógica racional para sua narrativa. A cineasta, num movimento parecido com o de Xtabay, seduz e conduz seu espectador numa narrativa lenta e silenciosa. Se para os homens que exploram a floresta o ponto final pode ser terrível. Para nós, há uma esperança quase fantasiosa que acredita que a natureza pode se vingar daqueles que a fazem mal.
Terceiro ato
Selva Trágica está disponível na Netflix.
Pós-crédito
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Selva Trágica (2020)
Elenco principal: Indira Andrewin, Gilberto Barraza, Shantai Obispo, Dale Carley, Nedal McLaren
Direção: Yulene Olaizola
Roteiro: Yulene Olaizola e Rubén Imaz
Edição: Yulene Olaizola, Israel Cárdenas, Rubén Imaz e Pablo Chea
Fotografia: Sofia Oggioni
Composição: Alejandro Otaola