Travessia, sugestão do Cinema Preto desta sexta-feira, é um filme ambivalente. Todas as palavras que penso para descrever o curta-metragem são, de alguma forma, opostas: universal e íntimo, simples e complexo, ambicioso e modesto. Uma mistura complicada e muito competente.
Por que assistir Travessia?
Lançado em 2017, o curta-metragem é descrito como uma “contranarrativa visual” da ausência de registros fotográficos de famílias negras. Para isso, o filme costura, em seu primeiro momento, fotos de pessoas negras encontradas em feiras de antiguidades no Rio de Janeiro e trechos do poema “Vozes Mulheres” de Conceição Evaristo.
Ao buscar referências como Evaristo e Milton Nascimento, o curta metragem dirigido, roteirizado e montado por Safira Moreira retrata a vontade universal que é a busca por identidade e raízes. Por isso, mesmo com personagens absolutamente anônimos essas pessoas nos parecem familiares.
Mesmo assim, Travessia é um filme sobre lacunas e ausências, e questiona em cinco minutos como contar histórias que foram esquecidas, como resgatar o que é, sistematicamente, apagado e ignorado, e qual o papel do cinema nesse cenário. Dessa forma, o filme tem um diálogo direto entre o desejo pela memória e a prática de contação de história.
Terceiro ato
Travessia faz parte da seleção do Festival de Internacional de Mulheres no Cinema, que acontece online e gratuitamente até dia 17 de novembro.
Nesta edição, O Festival faz homenagem a atriz e diretora Grace Passô. A programação tem três filmes com Grace: Sem Asas (2019), Vaga Carne (2020)e República (2020).
Pós-crédito
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Travessia (2017)
Direção e roteiro: Safira Moreira
Direção de fotografia: Caíque Mello
Montagem: Safira Moreira
Produtor: Omnirá Filmes