Para finalizar junho no Cinema Preto, vamos nos transportar para um universo paralelo onde os Estados Unidos comemoram 10 anos de uma revolução social-democrata e sua população lida com os problemas de uma realidade pós-revolução. Esse é o cenário de Born in Flames, filme revolucionário, provocativo e futurístico dirigido por Lizzie Borden e lançado em 1983.
Só um aviso: esse filme tem um selo de “cautela” no Mubi, ou seja, talvez não seja muito apropriado para assistir com crianças, adolescentes e alguns pais e parentes
Por que assistir Born in Flames?
O mundo do filme criado por Lizzie Borden, visualmente, não é diferente daquele que esperamos quando pensamos em Nova York na década de 1980. Com um orçamento de apenas $40 mil, a diretora e roteirista filmou Born in Flames nas ruas da maior cidade norte-americana e alguns trechos de protestos e noticiários não são encenados, são imagens reais tiradas de arquivo de televisão. No entanto, o discurso ideológico é diferente.
Nessa realidade alternativa, os Estados Unidos têm uma estrutura política socialista, governada por um único partido que celebra uma década de revolução cultural, chamada de Guerra da Libertação, mas que não consegue prover segurança, moradia e trabalho para a população. Assim, a insatisfação aparece em setores sociais diversos e plurais, como homens brancos que afirmam que os postos de trabalho são oferecidos – privilegiadamente – para minorias sociais e secretárias que não querem ser tratadas como escravas de patrões.
Para Born in Flames, todas essas manifestações e retóricas são importantes, mas o protagonismo é a iminência de uma revolução feminista. Por muito tempo do filme, o foco está nessas discussões porque são elas que fazem esse mundo futurístico existir. Logo, os personagens da ficção-científica são apresentados por sua ligação e importância para os grupos políticos. Honey e Isabel, por exemplo, comandam estações de rádio rivais, Rádio Phoenix e Rádio Ragazza, respectivamente; as editoras do jornal Socialist Youth Review (uma delas interpretada pela diretora ganhadora do Oscar, Kathryn Bigelow) representam um setor do feminismo conformista.
Algumas dessas mulheres são introduzidas na narrativa a partir da descrição feita por agentes do FBI que estão observando o trabalho das ativistas, como é o caso de Adelaide Norris (Jean Satterfield), líder do Exército Feminino, um grupo feminista radical que acredita em ação direta e efetiva.
Mas além de conseguir narrar discursos políticos complexos e plurais, o maior trunfo de Born in Flames está em nos manter conectados nessas forças distintas e construir uma narrativa tumultuosa que fica mais intensa a cada minuto do filme.
É na intensidade, tumulto e pluralidade que a revolução do filme se constrói, e, por reconhecer que histórias revolucionárias se apoiam nesses pilares, Born in Flames é tão futurístico como atual. Assistir ao filme é como ler um manifesto revolucionário em apenas 80 minutos em que tudo é essencial e necessário. Às vezes, você se sente confuso ou até meio tonto com tanta informação, mas, no final, dá apenas uma gratidão por essa obra existir.
Terceiro ato
Born in Flames está disponível no Mubi.
Pós-crédito
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Elenco: Honey, Adele Bertei, Jean Satterfield, Kathryn Bigelow
Direção: Lizzie Borden
Produção: Lizzie Borden
Roteiro: Ed Bowes e Lizzie Borden
Edição: Lizzie Borden
Fotografia: Ed Bowes e Al Santana