A indicação da newsletter hoje tem um pouco de vários assuntos que já conversamos nos últimos meses: James Baldwin, o sistema de justiça criminal americano e Regina King, mas falaremos de um dos meus temas favoritos e impressionantemente ainda não mencionado no Cinema Preto: a maestria de Barry Jenkins.
Por que assistir Se a Rua Beale Falasse?
Adaptação de um romance de James Baldwin, o filme conta a história do amor entre Fonny (Stephan James) e Tish (KiKi Layne). Os dois se apaixonam, Tish engravida, eles começam a planejar uma vida juntos, mas os planos são interrompidos quando Fonny é preso por uma acusão falsa de estupro.
Para contar essa história, Barry Jenkins não assume um papel narrativo para mostrar como o racismo estrutural afeta a vida desses personagens. De forma precisa e controlada, Se a Rua Beale Falasse convida o espectador a entrar na narrativa, ouvir a história que Tish tem para contar e olhar nos olhos de seus personagens (os protagonistas e os coadjuvantes). Vale ressaltar que as famílias dos protagonistas têm um papel importante na trajetória deles, às vezes bonito, às vezes sufocante.
É difícil tentar se manter neutro ou não ser afetado ao ser encarado por pessoas que carregam traumas que precisam de muito mais de duas horas de filme para compreender. Como não se emocionar com a dor de Daniel, amigo de Fonny e Tish que acabou de sair da cadeia e precisa compartilhar os momentos que ele enfrentou? Ou como odiar Victoria Rogers, mulher que acusa Fonny de estupro, ao ver a situação em que ela é colocada com esse processo? Em Se a Rua Beale Falasse, o espectador não é intruso, é participante central.
Em algumas entrevistas, Barry não fala desse filme como uma simples adaptação de um livro de Baldwin. Ele afirma que os dois trabalharam juntos já que o texto do cineasta é uma extensão da obra de Baldwin. Se a Rua Beale Falasse mantém a essência do livro (o romance, a complexidade dos personagens, a crítica social em tom de ensaio), mas cria um universo visual e sentimental próprio em que a obra original é traduzida e intensificada.
Nesse universo, Barry é um manipulador de sentimentos excepcional. Assistir ao seu filme, é se deparar com momentos de raiva, paz, frustração, alegria, profunda tristeza, desespero e senso de esperança. Tudo acontece junto porque Se a Rua Beale Falasse é sobre o quanto é possível resistir quando a sua existência é negada.
Terceiro ato
Se a Rua Beale Falasse está disponível na HBO GO.
Termino o Cinema Preto com meu vídeo favorito do Barry Jenkins: o cineasta escolhendo filmes no “armário” da Criterion.
Pós-crédito
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Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk) (2018)
Direção: Barry Jenkins
Roteiro: Barry Jenkins e James Baldwin
Elenco principal: KiKi Layne, Stephan James, Regina King, Teyonah Parris, Colman Domingo
Cinematography: James Laxton
Composer: Nicholas Britell